sexta-feira, 9 de março de 2012

Porque parir deitada?


Durante grande parte da história da humanidade a mulher deu a luz acompanhada de outras mulheres (parteiras) de cócoras ou sentada.

Em 1513, o médico alemão Dr. Eucharius Rosslin publicou o primeiro manual sobre gravidez para o grande público, “The Rose Garden for Pregnant Women and Midwifves”. Dividido em 12 capítulos, o livro ensinava como a mulher deve se portar durante e depois da gravidez, como retirar um feto morto da barriga, como o bebê se apresenta no útero (acreditava-se que o esperma masculino continha uma miniatura humana e que o corpo da mulher era um mero recipiente para o desenvolvimento do bebe), entre outros tópicos.(Imagina?) Ele foi campeão de vendas por mais de 200 anos e foi traduzido em 5 línguas. É isso que conta o livro “Get Me Out – A History of Childbrith”, da jornalista norte-americana Randi Hutter Epstein.

Infelizmente, um dos maiores feitos do livro foi difamar as parteiras e dar início ao domínio masculino na sala de parto, já que o negócio se mostrava lucrativo entre as classes mais abastadas. As parteiras passaram a ser consideradas incultas e negligentes. Mas, sua reputação foi totalmente jogada na lama com o advento de instrumentos obstétricos, como a fórceps, obviamente desenvolvida pelo ala masculina.

Assim açougueiros e pseudo-médicos entraram na dança. Era de se imaginar que para facilitar o seu trabalho eles foram os responsáveis por tirar a mulher da posição natural de cócoras ou sentada e a colocaram deitada, contra a gravidade. Segundo a etiqueta da epoca os homens-parteiros nao podiam ver as partes íntimas da mulher, então a maioria dos partos passou a ser realizado debaixo de panos ou até mesmo de olhos vendados. Vixe-Maria!

 Conta-se que o médico Moriceau: para assistir à Rainha da França, fez trazerem uma tábua e a deitou, modificando assim a postura que por muitos e muitos anos haviam adotado mulheres de toda condição social e distinta localização geográfica. Quando foi perguntado por quê isso,  responderam: "Porque o médico da rainha é velho, é gordo e tem gota"; e 300 anos depois, a maioria das mulheres do mundo ocidental todavia parem deitadas, mesmo que há tempos Moriceau morreu e portanto desapareceram "suas razões".

Durante esse período da história a inquisição estava em seu auge e consequentemente as parteiras também foram alvo fácil para as acusações de prática de bruxaria. E ai se alguma fatalidade ocorresse durante um parto. Assim, muitas parteiras foram parar na fogueira. Diz-se que muitas dessas inquisições foram incentivadas pelos “parteiros”, na ganância de dominar o negócio lucrativo.

No final do século 19, dar a luz em maternidades passou o a ser a norma. A mentalidade machista da época insistia em açoitar as parteiras e convencer as mulheres de que elas estariam melhores nas mãos dos hospitais dominados por doutores. Entretanto, foi nesse período que o número de casos de mortes durante o parto atingiu o seu pico e ter um filho era como uma roleta russa. A grande maioria das mortes se dava devido a infecções. Ainda não havia conhecimento dos germes e ninguém se preocupava em lavar as mãos nos hospitais. Hoje se sabe que as mulheres que permaneciam em casa na hora do parto, na companhia de uma parteira, tinham melhores chances de sobreviver.

No entanto, o vínculo de dar a luz e morrer tomou proporções assustadoras e transformou o ato natural do parto em um momento de apreensão e medo. A mulher deposita no outro, geralmente o médico, a responsabilidade do parto. Ela quer garantias e não quer sentir dor. E foi ai que ela perdeu sua força, seu instinto animal, seu momento de êxtase e empoderamento.

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