sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Relato de Parto Anna Márcia - Tudo: desde o começo

* Por Anna Márcia Gallafrio

Descobri a gestação na minha última semana na Irlanda, depois de um ano vivendo naquele país com o Rô. Estava concluindo um grande sonho, o curso de coaching com a melhor equipe do mundo no ramo. Tínhamos voltado de um mochilão de 4 semanas na Europa. Gastamos até o último Euro dos poucos que conseguimos juntar em Dublin. Eu trabalhei na limpeza de banheiros de um banco, o Rô trabalhava no mesmo banco e fazia pães de queijo (deliciosos) para ajudar no orçamento. Enfim, eu tinha todos os motivos para ter certeza de que ele era o homem certo, que me apoiou quando pedi demissão no Brasil para investir no curso dos meus sonhos no auge da crise europeia em 2008. O Rô tinha voltado pro Brasil uma semana antes de mim.

Lá estava eu há 3 meses sem pílula, há uns dias atrasada, com a memória daquele amor no hostel em Paris…será?

Liguei pro Rô chorando, não tinha coragem de fazer o exame, o que seria de nós dois desempregados, duros como nunca? Ele disse: vai fazer o exame, se der positivo vai ser a melhor coisa que já aconteceu em nossas vidas!

Eu fiz e “a melhor coisa das nossas vidas” apareceu em dois riscos cor-de-rosa. Fiquei quase uma hora olhando para os riscos e chorei para ele pela primeira vez : “é o meu menino”.

Cheguei ao Brasil e todo mundo foi pra casa da minha irmã numa tapiocada. Era muita gente então resolvi contar só no dia seguinte. A primeira coisa que minha irmã fez foi ir comigo no dr Evaldo, médico da família toda e de amigas, autor da cesárea de todo mundo, “um fofo”. Comecei o acompanhamento com ele, adquiri um convênio beeem fuleiro e com 7 semanas o sangue da nidação (período da implantação do embrião no útero) me levouao primeiro US no São Luiz. Estava amando a ideia do bebê, assustada com o sanguinho marrom e TUMTUMTUMTUMTUM ouvi o coração dele disparado a bater. Que alegria! Eu chorei por ele de novo, abraçada com o Rodrigo.

A gravidez ia bem, uma fooome que eu tinha que comer logo que acordava para não enjoar. Uma melancoliiiiiia que eu chorava até no comercial do Itaú. Chorava vendo pedintes na rua, uma comoção só.

Foi aí que uma dor nas costas fez o Rô ligar pro amigo dele massoterapeuta André para me tratar. Ele estava atendendo num lugar dedicado a mães, olha só! Pra quem não acredita em coincidências, veja . Foi minha primeira vez no GAMA. Ele falou de leve sobre doulas, parteira, os partos da Mirella em casa…fiquei curiosa e passei os outros 3 dias lendo freneticamente os relatos de parto da Parto do Princípio, além do livro da Ana Cris sobre parto normal ou cesárea. Entre lágrimas, muitas lágrimas, eu lia e relia, e lia pro Ro, e lia pra minha amiga, e lia e chorava loucamente.

Na quinta feira fui na reunião , com 16 semanas e amei. Falei que queria “talvez quem sabe” um parto domiciliar (PD) e com certeza um Parto Natural Hospitalar (PNH). Depois de umas 3 reuniões, eu perguntei pra AC: posso falar assim “vou TER um PD?” E ela disse “claro,  se é o que você quer vc VAI .”

Fui pra casa leve, feliz. De alguma maneira antes eu lia os relatos de PD e achava essas ulheres extremamente bem aventuradas, poderosas e sortudas. Naquele dia me incluí no grupo e apaguei a ideia de que tinha que tudo estar “muito perfeito” para rolar um PD. Tinha que ser baixo risco, tinha que ter grana, tinha que enfrentar tabus, tinha que rolar quase que um alinhamento dos planetas para acontecer!!!

Bom, se tinha ou não, já não importava; eu ia ter um PD e a Ana Cris deixou eu falar isso!!! ahahaha

Comecei meu pré-natal com a dra Catia Chuba porque a AC ia estar nos Estados Unidos em Abril. E meu filho ia nascer em Abril, contei pra vocês? A data prevista do parto (DPP) era 16/04 (aniversário da minha sogra) e com 42 semanas batia 30 de abril (aniversário da minha irmã), ou seja, era Abril e pronto, acabou.

A última consulta com dr Evaldo foi com 20 semanas, ele perguntou se eu já tinha decidido prestar homenagem à sogra. ( ??? ÃNH, fazer a cesárea dia 16 pra alegrar a sogra??? ). Ele também disse que faria meu Parto normal (PN) desde que a bacia desse passagem, o imbiguinho não enrolasse no pescoço, o tamanho dele fosse compatível, enfim, eu dependeria de novo do alinhamento dos planetas, então fugi dele.

Tudo correu bem até o ano novo em Itanhaém quando uma febre e uma dor no flanco me levaram ao PS e o diagnóstico de Infecção do trato urinário (ITU)  me deixou internada por 7 dias, os 7 primeiros de 2010. Para meu desespero o médico escreveu no prontuário “TP prematuro” e eu chorei. Não PODIA ter um trabalho de parto prematuro!! Como assim? E meus sonhos? E meu PD? Cheguei a ter contraçãoes de 3 em 3 minutos por uma hora, sem dilatação, indolores, mas fortes. Tive vômito, desmaio, fora antibioticoterapia na veia a cada 4 horas, uma benzatacil às 5 da manhã, para o prazer sádico da enfermeira mais odiosa do mundo. ( ver foto)

Ufa! Tive alta e jurei nunca mais precisar de hospital. A essa altura do empoderamento eu sabia que podia me jurar isso.

Reuniões no Gama, consultas com a Cátia, lista materna do yahoo grupos, livro Parto Ativo, livro de  Michel Odent- O renascimento do parto…minha mais prazerosa atividade era aprender sobre gestação, parto, obstetrícia e maternidade. Eu devorei tudo que podia, várias coisas eu mostrava e lia pro Rodrigo. Indignado com minha obstinação, mas já ativista da causa junto comigo. Lá pelas tantas com umas 37 semanas eu relaxei porque poderia ter meu PD, a AC não ia mais pros USA e eu desisti de reformar a casa. O tempo ia passando e as pessoas queriam saber : “pra quando é? ”

A pergunta que não se cala…

Um dia falando com o Rô e meio P* com a insistência de uns eu chamei inconscientemente a responsa: “também, se ele vier com 42 semanas eu vou é levantar a bandeira do parto natural ainda mais, servir de prova de que bebês nascem, vou entrar pro time da Fê Mouco! ”

ahaha

Algum anjo ouviu e disse “amém”.

Tudo pronto pro PD. 40 semanas!!!! 41 semanas…..! Fiz um US com 41+3 e o médico surtou: “Como assim 41+3??? Esse bebê ainda não nasceu? Tem alguma coisa errada! ” Eu disse “Não, doutor, é isso mesmo, 41+3. Me diga você se esse bebê tem motivos para estar aqui fora.” Ele checou tudo, placenta, líquido amniótico, tamanho, coração, etc…..realmente, não tinha porquê tirar o bebê à força.

As meninas da lista materna e no GAMA dando a maior força…mas eu não sentia nada de diferente. Com 41+5 fiz descolamento de membrana, não doeu nada, eu tinha 3cm de dilatação, o Rô tocou o colo do útero e sentiu a cabeça do bebê, que emoção! Conversamos com a AC que, firme, me passou toda segurança e prescreveu fazer amor. Daí conversamos com a Cris Balzano, minha doula doce que me ouviu questionar : ”O que é que ainda faltava dentro de mim para entregar??” . Ela sugeriu então que eu escrevesse pro Mattias, compartilhando meu momento e chamando ele à vida na Terra. Eu sempre gostei de escrever. Tenho meu lado poeta, adoro arriscar meus versos…Mas por algum motivo não tinha conseguido escrever pra ele. Eu declarava minha vontade de conhecê-lo, sim, mas em meditação, em oração, em voz alta…não por escrito.

O Rodrigo acha que o jeito que eu melhor me expresso é por escrito. O que eu precisava era de inspiração para desabafar no papel.

Na sexta pela manhã o Rô me chamou no quintal para mostrar uma orquídea que desabrochara naquele dia (veja foto). Aliás, várias outras plantas estavam germinando…e eu entrava na 42 semana. Cadê meu bebê? Olhei em volta ,olhei pro céu, sentei pra escrever pra ele. A carta surgiu .

Carta ao Mattias

Deixa eu falar que hoje eu to mais cheia que a Lua
Que a nossa primeira orquídea desabrochou
Que toda a noite eu penso se será a tua
E de manhã vejo que você não chegou
Mas escuta que aqui fora eu juro
Que não é tudo sempre escuro
Que às vezes o melhor mesmo é chorar
Até perceber que a noite também tem luar
Mas hoje eu sinto o Sol
Que faz nutrir a flor
Mas e hoje ao pôr-do-Sol
Será que EU suporto a dor?
Será que a Lua ela mesma adivinha
Se já é hora de se deixar minguar
E escondida se fazer novinha
Antes que cresça alguma noite a brilhar?
Do mesmo jeito que a flor se abria
Ao calor do Sol essa manhã
Me diga, Lua, se o Sol permitiria
Que a minha flor se abrisse dessa noite pra amanhã.


30.04.2010
Li pro Rodrigo, ele chorou e eu virei as costas feliz. Eu chorei muito escrevendo. Foram 10 minutos intensos. Antes do banho, o Rô quis fazer um toque  e sentiu de novo a cabeça do bebê “tem cabelo!”. Daí saiu uma clara de ovo, bem transparente e viscosa. Eba! Adoro tampão, disse a Ana Cris por torpedo.

Fomos pra acupuntura e eu tinha contrações na Marginal. Sempre tive, desde umas 30 semanas era assim, bastava entrar no carro. Sexta-feira à noite. 20h. A dra Eneida nos atendeu super bem, eu deitei na maca e meditei enquanto ela aplicava as agulhas e depois fez mochabustão para aliviar um torcicolo.

Ufa! Eu estava antes na dúvida se precisaria mesmo da sessão, mas percebi logo que o processo acelerou quando desci as escadas para ir embora e tive uma put* cãibra na verilha e agachei na hora. Esperei ali mesmo o Rô ir buscar o carro. Não dava conta de andar, não! Minha irmã ligou (novidade), era aniversário dela e tava todo mundo lá. Resolvemos não ir e relaxar em casa. Ainda fiquei um tempo na lista e 23h a gente tava já dormindo. (Incomum, sempre deitava mais de 1h).

Acordei com vontade de fazer número 2!! Olhei no celular e era 1:41 a.m. Eu sempre fazia xixi só lá pras 5 da manhã, então isso me chamou a atenção. Voltei pra cama e 1:46 estou eu olhando no celular de novo: número 2 urgente!!! ! 1:51 de novo, meu Deus! 1:57 novamente!! E 2:02 again…cara, fui tantas vezes no banheiro que resolvi lavar o vaso pra não ficar cheiro ruim. Já sabia que o Mattias ia chegar e não queria banheiro fedido. Mas daí ficou cheiro de Pato desinfetante e resolvi pegar uns incensos, ahahha.

Intestino e banheiro limpos, eu deitei de novo na cama e sentia as contrações vindo, como cólicas, mas eram elas, inconfundíveis. Eu nem abria os olhos e só respirava, gemendo um pouco e pensando na flor que se abria. O Rô não ouviu nada e continuava dormindo. Depois de um tempo não consegui mais ficar deitada. Busquei colchão na sala, edredons e travesseiros, peguei velas, incensos e FIZ MEU NINHO! Às 3:30 mandei um torpedo pra Cris e Ana Cris que eu já estava há uma hora tendo contrações de 5 em 5 minutos e queria entrar na banheira. Me imaginei passando a manhã naquela banheira. Conferi que elas receberam o SMS e daí a concetração em mim mesma e no bebê foi cada vez maior. Só sei o horário daqui pra frente pelo celular e pelo que o Rô depois contou.

Tive que acordar o Rô porque percebi que estava saindo do planeta Terra. “Rô, quando você acordar me avisa, preciso falar sério com você.” (ele demora pra acordar, abriu os olhos, reclamou das velas, do incenso no banheiro fechado e minúsculo, da bagunça.) Daí me viu de quatro na pilha de travesseiros e disse: “O que vc queria?”. Eu disse: “Amor, estou há 1h com contrações de 5 em 5. Quando vier uma NÃO fale NADA e NÃO toque em mim.”

Na primeira contração ele pegou no meu braço e disse: força linda!

“Que parte de `Não tocar em mim e Não falar nada` vc não entendeu?”

Repeti as intruções. Acho que demorou umas 4 ou 5 vezes para ele entender os dois comandos. Fui dura com ele. Acho que era a tal da partolândia.

Fui pro chuveiro, apoiava na parede e rebolava enquanto a água quente caía na lombar. E dói a lombar, hein? O Rô falava: Amor, tá de 3 em 3. E eu ficava P*** “não queroooooo saber os minutossss”. Meu medo era de o negócio involuir  e eu prestar muita atenção nos minutos.

Vinha outra e eu gemia alto, com a água quente ligada. Ele: “veio outra?” ( que pergunta!!” Não, tô treinando meu si bemol, claro que veio outra!” )  ele falava: “não, amor , é que tá de 2 em 2. AAAAAAAAAAAAAAh Não quero saber os minutos por***

O Rô sumia às vezes…eu chamava ele. Saí do chuveiro, voltei pros travesseiros, estava frio e eu pus o roupão, mas quando veio a contração eu arranquei o roupão, não queria que nada me tocasse. E dá-lhe dor na lombar. Já não estava fácil arranjar posição. Dor na lombar…Vontade de entrar na água…sentimentos confusos…eu pensei em entrar num hospital…e o pensamento foi embora como veio…confuso…Cadê a minha doula? Cadê o Rô? Meu, ele sumia! Quero o Rô, eu não vou aguentar muito tempo, meu Deus…será que eu dou conta mesmo? Cadê a Cris? Ela vai me dizer que eu consigo, cadê elaaaaa???

Falei que queria voltar pro chuveiro, mas veio uma contração e eu me joguei no chão gelado do banheiro. Vomitei. Nossa tudo junto! “Rô liga pra Cris, fala que ta doendo!”
Foi quando eu olhei pela janela e vi que estava claro. Cara, to aqui há horasssssssss, cadê as meninas? Acho que num vou aguentar!!! dói!!! Isso eu não falava, só pensava. Ouvi o Rô falar pra Cris que tava de 1 em 1 minuto. Nossa, eu estava sem noção de tempo mesmo.

Aí as contrações estavam diferentes, não bastava rebolar, a água não bastava. Me “veio”um grito de lá de dentro. Um grito de aaaaaaaarghhhhh, incontrolável, um grito de força, vontade de agachar. Puts! tava com vontade de fazer força!! E o medo de fazer força na hora errada? Será mesmo que é a hora? E se eu fizer força na hora errada e ficar com rebordo de colo? Eu li na lista que dói pra caramba reduzir rebordo de colo! Ai, mil coisas me confundiam …

Nos intervalos entre as contrações era confuso. Mas quando vinha uma era como uma onda enorme, de força avassaladora e a única coisa na mente era a entrega e um humilde pedido de “abre-me” diante da gigante que me tomava com a onda. Quando a Cris Balzano chegou eu estava no chuveiro ainda, ela me olhou nos olhos. “que bom, Anna, chegou sua hora, está tudo certo, deixa seu filho vir.” EBA!! Minha fada doula havia chegado. Essas palavras de paz e incentivo chegaram na hora de maior dor (?? é essa a palavra??), de maior confusão, e vontade de que passasse logo. Ela me pediu para deitar que ia fazer um toque. Eu estava super desconfiada. No fundo, um receio de ouvir “4 cm” e desistir. Eu não ia desistir.

Deitei e não senti dor no toque. A Cris disse que a dilatação era total ou quase total e que a cabeça dele estava bem baixa. Lá fui eu buscar posição, dessa vez fora do chuveiro, de pé apoiada no armário. Eu não podia aguentar nenhum toque nas minhas costas. Justo eu que sonhava com as massagens durante o TP…

Daí ouvi a Cris no telefone com a AC. Ela disse : ” Ana Cris, Anna Márcia no expulsivo, pode vir.”

Anna Márcia no expulsivo?? Gente, to no expulsivo!!!! Foi minha mensagem telepática pra todas da lista materna, pra todas mulheres do mundo, haviam muitas do meu lado, naquele quarto, naquela hora. Eu to no expulsivooo!! Néctar aos meus lábios, música aos meus ouvidos. Tô no expulsivo. Há! Eu estava prestes a (re) conhecer meu filho Mattias.

Procurei posições, mas era uma fase já bem diferente. Uma vontade de gritar. Eu estava de joelhos, o Rô na frente e quando vinha uma eu me jogava de quatro, a cabeça no meio das pernas dele, as mãos abraçando meu amor. Saiu bastante tampão. A Cris disse que o Mattias estava bem tampado, por isso demorou 42 semanas.

A AC já estava em casa quando eu senti uma dor MUITO forte, ainda nessa posição. Parecia uma pedra apertando minhas vértebras, sei lá. Foi bem na lombar , onde o nervo pinçado havia me levado ao GAMA. Lembrei do André dizendo que o bebê faria movimentos álgicos ( pró dor ) e que isso era bom. BOM??????? Meu Deus, a palavra é DOR. Essa sim, DOR! Foi um giro do bebê lá dentro, e que botou no lugar a minha vértebra escoliótica.(botou no lugar mesmo, nunca mais tive dor). Absurdamente incontrolável. O Rô diz que foi a única hora que eu falei palavrão e que a AC arregalou os olhos.

A AC me perguntou se eu queria deitar. Tudo que eu queria era deitar de lado. Lá fui eu. Quando vinha uma o Rô me ajudava pondo o joelho contra meu rosto. Eu fazia muita força. E depois que passava eu dormia de sonhar que o Mattias já estava correndo pela casa. Louca. Daí vinha outra e o Rô disse que estava vendo a cabeça descer e subir. Eu sentia tudo. Essa é a grande maravilha de um parto sem anestesia. Eu SABIA onde o Mattias estava. Tão perto… Me lembro de perguntar pra AC: “vou conseguir?”E todos responderam: “você já está conseguindo. ” Os puxos têm intervalos maiores e eu sonhava entre eles, quando vinha outro eu sentia que estava voltando de um sonho.

 A última posição foi de cócoras na banqueta verde. Foi assim que eu me percebi no expulsivo, finalmente, entendi o que tava rolando. Tinha um espelho grande atrás da AC, um pequeno espelho na mão dela, uma lanterna com a Cris, eu na banqueta e o Rô atrás de mim. Eu estava fazendo uma força longa, com grito longo e a bolsa rompeu. A AC então me pediu para mudar o jeito da força. Eu enchia o peito todo de ar, fazia a força no topo da barriga e segurava a força lá pra baixo.. Até o fim da contração-puxo dá pra fazer isso umas 3 vezes. Eu olhava nos olhos da AC e o medo passava.

Ela disse que a cabeça estava aparecendo. Falou para eu tocar o cabelinho, mas eu não quis, eu sabia onde ele estava, exatamente e não queria me desconcentrar daquilo. Eu suava…não pensava que ia suar no meu TP, pensei em dividir isso com a lista, o quarto todo suava, os espelhos também. Vinha um puxo e eu olhava pra AC. A Cris falava palavras de incentivo, o Rô me abraçava, que o Matt tava chegando. Quando passava eu me jogava pra trás, pra descansar.

Olhei no espelho e vi uns 2 dedos de abertura na vagina, um cabelinho entre os lábios. Senti muita pressão no ânus. Parecia que ia rasgar e sair por ali. Falei isso e a Cris me disse que era normal, que não ia sair por ali e que ele ia girar e sair pelo lugar certo, que eu podia na próxima sentir o círculo de fogo. Ai que aflição. Não queria sentir círculo nenhum. Eu lembrava dos relatos que tinha lido e não lembrava de ninguém suando, mas eu suava! “Preciso lembrar de por isso no meu relato…”

 (não senti círculo de fogo) Na próxima força, senti a cabeça descendo e me abrindo completamente até que ela saiu. NASCEU! NASCEU! Senti os ombros saindo, um depois o outro, e o corpo escorregar de dentro de mim. MEU FILHO CHEGOU!!!

Essa emoção é difícil descrever. êxtase. Não há mais dor nenhuma, zero. Eu vi meu filho que chorou alguns segundos depois e veio pro meu peito. O cordão era meio curto e eu fiquei tortinha para poder abraçá-lo. O corpo quente, saindo fumaça, era a coisa mais linda ,escorreguenta e gostosa que eu já tinha abraçado. O Rô tava chorando, eu não conseguia parar de rir nem de olhar pra ele.

O cordão era bem mais grosso que eu imaginava. Senti o pulsar que ainda unia nós dois. O pulsar que levava do meu coração todo amor e oxigênio que entrava nele. Meus olho se encheu de lágrimas. Depois que parou de pulsar o Rô cortou o cordão. E o Mattias chegou as 9:05 da manhã de um lindo sábado de sol. Quem disse que ele nasceria em Abril? Nada! Primeiro de Maio. Feriado. Dia do trabalho à dor. Dia do trabalho…de parto. ahahahaha

Curiosidades:

No expulsivo, a hora que eu perguntei se eu conseguiria, não me dava conta racionalmente do quanto pouco faltava. TP é instinto e não racional.

O quarto estava quente, à meia luz, os espelhos e vidros transpiravam. Pura energia, densa, pesada, dava prea sentir sobre a cabeça.

A placenta demorou 1h30min para sair, fiquei inalando ocitocina e tomei 2 injeções de ocitocina, para ajudar a contrair o útero. Mas quando eu pari, foi puro prazer: molinha, quente, parece um shitakão de mais de quilo. Pra-zer.

Ele mamou na segunda hora de vida, depois de saída a placenta. Até então ficou lambendo e tentando, e lambendo….e dormindo…

Tomei 2 pontinhos internos e 1 externo na região perineal e a recuperação foi ótima. Superou minhas expectativas.

Não tivemos pediatra na hora, mas a parteira deu nota 9 e 10 de Apgar. ele pesou 3620g – eu não imaginava o tempo que ia demorar para ele superar o peso de nacsido ainda… Outro capítulo.

Agradeço :

ao Mattias. You did an excellent job.

AC, você é incrivelmente forte e intuitiva.

Cris minha doce doula.

Rodrigo, sem palavras para descrever nossos 3 dias olhando nosso filho e chorando. eu te amo.

Lista materna, meu vício mais sadio. eu cheguei aqui, eu pari porque sabia dessa rede de apoio.

A todos que torceram a favor,

OBRIGADA!

com amor,

Anna Márcia

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